Gira de Portugal – Juntas somos mais fortes

Essas semanas em Portugal tem sido especiais em vários sentidos. Isso me motivou a escrever aqui o porque dessa gira estar sendo a melhor de todas até agora. Vou começar desde o início e como eu fui parar em Portugal.

Para começar, essa gira não estava programada. Desde fevereiro, o calendário estava indefinido. A gente não sabia quais países iriam realizar torneios de tênis e quais deles iriam aceitar brasileiros, sem contar com toda a dúvida que tínhamos em relação aos protocolos e as medidas que estavam sendo tomadas para garantir nossa segurança e saúde durante os torneios.

Estava treinando em Itajaí na ADK Tenis, desde Maio e em Agosto, os rumores estavam aumentando de que realmente os torneios iriam voltar a acontecer. Porém, haveria algumas limitações em relação à viagens e bastante restrição à quem poderia estar viajando. Mas ao mesmo tempo, haviam também os que diziam que o circuito seria cancelado. Mas “a esperança é a ultima que morre.”

Tudo começou quando, a Bia me enviou uma mensagem de Portugal dizendo: “Gri, tem bastante opção em Portugal, vamos tentar fazer voce vir, sério.”

Ela já estava em Portugal à uma semana junto com a Carol Alves (nossa amiga e tenista profissional brasileira) e outros atletas que participavam da Missão Portugal organizada pelo COB/CBT.

Em Santarem no aquecimento pré-jogo… Carol, Bia e Eu.

Eu não pensei nem duas vezes e já iniciei as tarefas que eu precisava fazer para tornar minha ida para Portugal possível. Desde fevereiro que não competia ou viajava. Eu não via a hora de voltar para a rotina “normal.”

Depois de algumas mensagens trocadas, emails e teste, eu estava dentro de Portugal, pronta para uma gira de torneios que não estava no meu calendário e nem no de ninguém, eu acho.

A pandemia trouxe surpresas na vida de todo mundo e a oportunidade de viajar para jogar torneios pela Europa perto da Bia, da Carol e outras jogadoras tops foi uma surpresa boa pra mim e está sendo uma experiência que está superando as expectativas em todos os sentidos e mais importante que isso, acho que estou fazendo parte de uma coisa bonita que o esporte oferece então isso me fez vir aqui escrever para vocês 😉

Carol, Eu e Bia

Quando a gente ouve falar em esporte, relacionamos na hora com a competição, e isso é normal pois é o que faz nós atletas à seguirem nessa vida e sacrificar muitas coisas para sentir o que a gente mais gosta: o friozinho na barriga na hora de competir e o sabor da vitória. Mas para mim, esporte é muito mais que a luta diária nos treinamentos, a disciplina constante e a competição. Esporte é acima de tudo companheirismo. O ser humano foi feito para ajudar o outro, é por isso que todos nós somos diferentes em algum sentido, qual graça teria se todos nós fossemos iguais ou intocáveis?

O que está fazendo essa gira especial é o fato de eu ter alguém como a Bia ao meu lado.

A gente se conhece desde os 12 anos por causa do tênis. Treinamos na mesma academia por um ano aos 14. Viajamos para alguns torneios juntas até os 16 anos. Até que em certo momento, a gente foi para caminhos diferentes. Ela já tinha resultados expressivos e estava muito bem direcionada para seguir no profissional e ter uma carreira de sucesso. Eu, fui para o circuito universitário com o objetivo de um dia chegar aonde ela estava.

No Mundial de 14 anos na Republica Tcheca.

Chega um momento de nossas vidas que algumas pessoas você não tem mais contato, ás vezes por causa da profissão, escolhas da vida, etc… mas tem aquelas que você tem certeza que sempre vão ficar do seu lado não importa o que acontecer. Se teve uma pessoa que eu tinha certeza que ficaria sempre do meu lado mesmo a gente tomando diferentes caminhos por um longo período, era a Bia.

A gente sempre sonhou em estar vivendo o que estamos agora porém nunca imaginávamos estar sendo dessa forma. As duas juntas no circuito, sozinhas, tendo que se virar nos 30 pela Europa e viajando de torneio para torneio. Uma coisa que a gente sempre fala é que tudo na vida tem um propósito.

Pra gente, é muito mais que tênis. É companheirismo, parceria, um ombro se precisar chorar, um ouvido pra desabafar e o mais legal, uma amiga que você sabe que poderá compartilhar suas maiores alegrias.

Foto tirada depois da final de Porto em que uma jogou contra a outra.

A gente já estava recebendo à um tempo, mensagens de pessoas falando que estavam curtindo nos acompanhar viajando no circuito juntas, além de pessoas ao nosso redor por aqui também dizer o mesmo.

Viajar com alguém que já esteve com as melhores do mundo é o que qualquer jogadora que está “entrando” no circuito gostaria de ter. Porém para mim, ela é muito mais que isso.

Ela nem deve saber de tão humilde que é mas ela demonstra todos os dias a coisa mais preciosa do mundo na minha opinião e o que sempre almejo fazer: inspirar as outras pessoas e deixar marcas de felicidade por onde passa.

Viajar com a Bia é rir de doer o abdômen todos os dias. É aprender a ser competidora, dentro e fora da quadra. É ser profissional em todos os momentos do dia.

Durante essas semanas, a gente fala sobre tudo. De táticas e estratégias de jogo até as coisas mas bobas do mundo, discutir sobre quem dirige melhor. Sem contar com as cantorias nos momentos livres. A gente tem uma playlist e fica combinado que quando ela está tocando, a única coisa que iremos fazer é: soltar a voz (ai meus ouvidos…), sorrir e esquecer de todas as preocupações.

Antes de começar essa gira de torneios a gente fez um pacto: ser positiva em todos os momentos. Sim, isso mesmo. Até nos mínimos detalhes. Tentar levar sempre as coisas pelo lado positivo.

Teve um dia que erramos o caminho de volta para casa. Pegamos a estrada errada em direção a Lisboa. Iriamos andar 30km a mais por causa do erro. Confesso que lamentamos no início e logo em seguida aumentamos o volume da música e seguimos na estrada. Não tinha o que fazer, apenas seguir em frente, sem parar. E é isso que estamos tentando levar para a vida com a gente. Se pensamos coisas boas, coisas boas virão.

A vida de tenista é muito solitária, talvez porque tênis é um esporte individual e a competição é alta. A gente viaja de torneio para torneio e de país em país toda semana. Os custos são altos e são poucas que conseguem um apoio ou tem condições de bancar um treinador ou alguma pessoa para estar viajando acompanhada nessa fase inicial. Tem gente que não entende a vida de tenista de tão louca que é, mas uma coisa é simples e eu posso dizer, você precisa gostar de estar na quadra e ser feliz fora dela independentemente de onde esteja.

Day off: um dia após a final fomos surfar e recarregar as energias no mar.

Energia é uma palavra que a gente usa aqui todos os dias e tratamos dela com muito carinho. Por causa dessa energia alta que conseguimos ser a Ingrid e a Beatriz que todos gostam de ver.

A energia de torcer quando uma está jogando, de falar o que a outra não quer escutar mas que é para o melhor dela, de sacrificar horas de sono ou descanso para ser a companhia que uma precisava, de virar fisio ou coach por uma coisa maior, de sonhar junto e grande para um dia podermos dizer e comprovar que sim, esporte é jogado junto, mesmo que este seja individual.

Que esse seja apenas o inicio do sonho e que um dia possamos estar viajando pelos maiores palcos de tênis do mundo. E que nesse caso, olhar para trás será permitido, para reviver histórias e memórias que nos fizeram mais forte e felizes para enfrentar qualquer desafio, seja ele dentro da quadra ou fora dela.

 

Juntas, no mesmo lado da quadra…
Juntas, em lados opostos da rede

 

 

 

Agradecimentos especiais e Comentários

 

Para Rosane Bekierman:

Obrigada Ro, por enviar a seguinte mensagem e me inspirar a escrever esse texto: ““Essa dupla tá demais! A cara da felicidade! Bora escrever sobre isso no blog! Vc escreve super bem!”

Para o tênis feminino brasileiro e esporte feminino:

Estamos juntas nessa e vamos crescer juntas! @quadradosfundos esta ai para isso! Muito bom dividir e compartilhar essa caminhada com vocês! Beijo Luisa e Carol

Para Nuno Reis e familia e a Federação Portuguesa de Tênis:

Obrigada pela confiança e por todo esforço para conseguir a carta e tornar essa viagem possível.

Para Bia Haddad:

Obrigada pela amizade e por ensinar não só a jogadora Ingrid, mas o ser humano Ingrid também!

 

 

“Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipe e inteligência, ganhamos campeonatos.”

 

Campeãs de dupla em Figueira da Foz (ITF 25k+H)

 

14 Replies to “Gira de Portugal – Juntas somos mais fortes”

  1. Emocionados com a honestidade de suas palavras, ditas de uma maneira tão pura,tocou,_nos profundamente. É o desejo de todos nós que está amizade perdure para sempre Bjs miminha e vô Ramez

  2. Que lindas!!! Que lição!!! Que o universo continue retribuindo toda essa energia! Está sendo maravilhoso acompanhar vcs! Só agradecer por dividirem conosco tudo isso! Que continuem assim, incentivando e ensinando! São grandes exemplos! GIGANTES @quadradosfundos!

  3. Antes de ler, pelo Instagram de vcs já imaginava tudo isso.
    Muita luz no caminhar de vcs… a vitória e a derrota faz parte da vida. E a vida é para ser vivida…
    Sejam felizes todo o resto são detalhes…

  4. Ingrid
    Demais seu blog e sua história nesse ano maluco mas q uniu vocês duas !
    A alegria demonstrada no dia a dia diz tudo da cumplicidade e respeito entre vocês !
    Parabéns , continue cuidando da Bia e curtindo cada momento !! Bj carinhoso Tia neine

  5. Parabéns, meninas!!! Estou acompanhando a gira de vcs, e saber o como começou e ver a amizade linda que existe há tempos me tornou ainda mais fã de vocês!!! Sou brasileira, trabalho com tênis há anos, fiz doutorado aí em Portugal, analisei a carga de treino de tenistas juvenis. Foi uma experiência fantástica… morei aí 3 anos e retornei ao Brasil em Dezembro de 2019.
    Aproveitem todas as oportunidades que estão tendo de crescimento pessoal e profissional, pois isso com certeza levará vocês ao lugar mais alto de onde querem chegar!!!
    Sei que não me conhecem, mas um dia quem sabe nos conheceremos, vcs jogando muito em um grande slam e eu lá na torcida.👏💪🏻🙏. Estou com vocês…assim como tantas outras pessoas!!! Voemmmmm😘

  6. Olá Ingrid, primeiro parabéns pelo texto! Não me lembro de já ter lido algum depoimento que mesclasse de forma tão pura o esporte profissional com o lado humano, tudo escrito de maneira espontânea e genuína.

    Embora não seja tenista profissional, sou também um grande amante desse esporte que já tanto acompanhei, joguei e torci. E mesmo tendo relativamente uma boa ideia de como é a vida e a rotina de um(a) tenista, às vezes para quem é de fora, não é tão nítido o quanto a vida fora da quadra também é tão importante tanto a vida dentro dela.

    Sua declaração afetiva realça o quanto o apoio e o convívio junto daqueles que gostamos nos tornam mais fortes para encarar os desafios, da vida e da profissão.

  7. Ingrid, você e Bia foram 5 ***** com todo o mundo aqui em Portugal. Estive em quase todas as provas, como sabe, e a opinião sobre vocês é unânime, foram impecáveis, super educadas, divertidas e gente boa demais. Esperamos vocês no próximo ano! Se cuidem! “Isso que é vidaaaaa”! 🙂

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